É comum termos em mãos o hemograma de um paciente, mas será que utilizamos adequadamente todas as informações que o exame oferece? Um estudo publicado em 2018 no World Journal of Cardiology apresenta importantes relações entre a distribuição de células vermelhas no sangue e a insuficiência cardíaca.
Insuficiência cardíaca: principais sintomas
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa, caracterizada por sintomas como dispneia, fadiga, retenção de líquidos, edema, pressão venosa jugular elevada e crepitações pulmonares.
A etiologia da IC é variada, incluindo ampla gama de patologias cardiovasculares e não cardiovasculares. Muitos pacientes sofrem de diferentes doenças ao mesmo tempo, o que acaba desencadeando a insuficiência cardíaca. No entanto, entre as mais importantes causas de morte em pacientes com insuficiência cardíaca estão as doenças cardiovasculares. A prevalência da IC parece estar aumentando constantemente em todo o mundo. Por isso a importância do cuidado e da detecção de risco precoce.

Hemograma e RDW
Os eritrócitos (RBC), também conhecidos como hemácias ou glóbulos vermelhos, são elementos corpusculares do sangue com a função principal de transportar oxigênio. Um eritrócito maduro típico aparece com volume corpuscular médio (VCM) entre 80-100 fl.
A RDW (Red Cell Distribution Width), ou Amplitude de Distribuição dos Eritrócitos, é um parâmetro obtido a partir do hemograma automatizado, avaliando a diferença do tamanho dos glóbulos vermelhos e medindo o grau de anisocitose na amostra sanguínea. A RDW é um parâmetro hematológico simples, rápido e barato que reflete o grau de anisocitose quando em níveis aumentados. Embora um valor RDW reduzido não tenha significância clínica, um aumento tem consequências importantes sobre os riscos futuros de eventos cardiovasculares adversos e de mortalidade na população geral, bem como em pacientes em risco de IC.
O desarranjo de muitas vias biológicas, seja causado pelo envelhecimento, inflamação, estresse oxidativo, deficiências nutricionais ou função renal prejudicada, por exemplo, tem sido diretamente associado com eritropoiese interrompida, resultando em graus variáveis de anisocitose.
As evidências científicas sugerem de forma convincente que a avaliação da RDW não apenas prevê o risco de desfechos adversos (mortalidade cardiovascular e de todas as causas, internação por descompensação aguda ou piora da função ventricular esquerda) em pacientes com IC aguda e crônica, mas também é um preditor significativo e independente de desenvolvimento de IC em pacientes livres dessa condição.
O estudo sugere que a medição seriada de RDW, para uma comparação ao longo do tempo, é uma ferramenta acessível e eficiente para auxiliar na avaliação do prognóstico de pacientes com IC e para prever de forma confiável o risco de eventos adversos.
Ao avaliar o hemograma de seus pacientes, tenha em mente que o aumento de RDW reflete verdadeiramente o grau de anisocitose, podendo ser usado para decisões diagnósticas, prognósticas e até terapêuticas. A avaliação de mudanças de RDW pode ser considerada uma medida eficiente para ajudar a prever o risco de desenvolvimento e de progressão da insuficiência cardíaca.